Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão.

Paulo Freire

Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

 

Com essa frase que causa impacto reflexivo, Paulo Freire nos convida a pensar no poder da união como instrumento para a libertação social. Ao mesmo tempo em que a libertação começa dentro de nós, é essencial, também, expandi-la na comunhão de esforços de várias pessoas para se conseguir um bom resultado a longo prazo. Pois não é tão sustentável ter a paz apenas dentro de nós, quando à nossa volta pessoas padecem no caos.

Basta ligar a TV, rolar o feed do Instagram ou até mesmo fazer uma simples caminhada pela rua, para recebermos informações de crimes bárbaros e quiçá presenciarmos. Isso causa angústia e até mesmo ansiedade. Essa triste realidade não está distante de nós, pelo contrário, nos cerca, deixando-nos encurralados e assustados, pois não sabemos se nós, ou alguém que amamos, estamparão os noticiários e os dados governamentais, como vítimas da violência.

Quando analisamos pela ótica humana, percebemos a urgência dos governantes pensarem em estratégias de segurança que tenham efetividade duradoura e que ultrapassem o marketing e a famosa tese da sensação de segurança. Os cidadãos e cidadãs querem, de fato, estarem seguros e seguras, não apenas terem uma “sensação” a qual remete ao pensamento de algo temporário. Todos desejam caminhar livremente pelos espaços sem medo de um assalto e demais violências que assolam as cidades.

É justamente nesse anseio por segurança que a frase de Paulo Freire, destacada no início desse texto, emerge e potencializa uma palavra que há bastante tempo é utilizada em discursos de autoridades e artigos acadêmicos da área: INTEGRAÇÃO.

Somente por meio da integração entre as diferentes instituições que compõem o Brasil -  públicas, privadas e do terceiro setor - que conseguiremos avançar com políticas públicas efetivas e transformadoras de realidades.

A integração entre as instituições deve começar com a conexão de objetivo, ou seja, O BEM COLETIVO. A partir dessa convergência, outro ator entra em cena: o COMPARTILHAMENTO DE DADOS QUALIFICADOS que resultem em boa informação.

Sem informação é dificultoso, para não usar a palavra impossível, conseguir formular políticas públicas que rompam os campos do pensamento e da utopia para alcançar resultados palpáveis no dia a dia da população.

Quantas pessoas morrem por ano? Quais os gêneros? Qual a raça/cor? Onde morrem? Cidade, município, comunidade? Sua escolaridade? Qual o perfil da vítima? Quais as experiências nacionais e internacionais de prevenção à violência? O que deu certo ou errado?

O ponto de partida é organizar o conjunto de perguntas, procurar as respostas e somente depois avançar em um debate com brainstorming que ultrapasse as paredes de um órgão público e inclua, também, a sociedade com suas respectivas representações, para criar políticas públicas que tenham um resultado transformador a curto, médio e longo prazo.

O que fortalece a esperança é saber que a integração se tornou tema e que alguns passos em direção a ela foram dados e continuam avançando. Muito caminho tem a percorrer para colocá-la em prática, e assim, com a comunhão de esforços, libertar a sociedade do cativeiro da violência.  

 

Dérik Reis

Pedagogo e escritor,

com experiência em

elaboração e gestão de

projetos de prevenção à violência

Trabalha há 11 anos na área de segurança pública